Parte dos efeitos provocados pelo tarifaço imposto por Donald Trump, o setor agropecuário registrou um crescimento de 1,7% das exportações até novembro, com a venda de US$ 155 bilhões, mostra balanço apresentado pela CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
O setor exportou US$ 155 bilhões até novembro e com isso o resultado foi 1,7% superior ao apurado no mesmo período do ano passado (US$ 153 bilhões). Segundo a diretora de relações internacionais da CNA, Sueme Mori, “mesmo com as restrições no comércio internacional impostas pelas tarifas dos Estados Unidos, conquistamos um crescimento”, relata.
A soja em grãos permanece na liderança das vendas do Brasil, com a comercialização de US$ 42 bilhões entre janeiro e novembro e na sequência, aparecem a carne bovina in natura (US$ 14,9 bilhões), o café verde (US$ 13,3 bilhões), o açúcar não refinado (US$ 11,2 bilhões) e a celulose (US$ 9,4 bilhões).
Sueme explicou que os setores agrícolas se anteciparam e promoveram as vendas dos produtos até agosto, antes das determinações referentes ao tarifaço imposto pelo presidente dos EUA aos produtos nacionais. “A atitude compensou a redução das exportações para o mercado americano, que aconteceu de agosto até novembro”, avaliou a diretora.
A China segue como maior compradora dos alimentos brasileiros e com isso as exportações agropecuárias para o país asiático aumentaram 10% e totalizaram US$ 52 bilhões neste ano. Também as vendas para a União Europeia cresceram e mantiveram o bloco comercial como o segundo maior comprador de produtos nacionais, com US$ 22,9 bilhões. Os Estados Unidos aparecem na terceira colocação mesmo com a redução de 4% das compras, para US$ 10,5 bilhões.
Mesmo após o recuo e a retirada da sobretaxa de 40% para diversos produtos da agropecuária, a CNA destaca que 45% das vendas permanecem com tarifas adicionais. Entre os itens determinantes que ficaram de fora das exceções, os destaques ficam por conta da tilápia e do sebo bovino, que têm o mercado norte-americano com destino de mais de 90% das vendas internacionais.
Segundo Sueme Mori, se o Brasil continuar com esses produtos fora [das exceções], podemos projetar um impacto negativo de US$ 2,7 bilhões na pauta agropecuária para 2026.
Sueme destaca que as contrapartidas formalizadas pela Casa Branca também são prejudiciais às exportações brasileiras, a exemplo do compromisso de compras agropecuárias de produtores norte-americanos. “Isso tem muitas relevâncias para nós”, afirmou ao citar os exemplos do Japão, Reino Unido, Indonésia e Vietnã, acrescentando ainda que “como o Brasil é um alto exportador de produtos agropecuários, sempre que o governo americano faz um acordo, aquele país que assume o compromisso deixa de comprar de outro mercado”, explicou.
Agronegócio impulsionou o PIB em 2025
A estimativa aponta para o crescimento de 9,6% do segmento, contra alta prevista de 2,25% da soma de todos os bens e serviços finais produzidos no Brasil. “Tivemos um clima muito bom neste ano para a produção”, afirma Bruno Lucchi, diretor técnico da confederação. Para 2026, as expectativas indicam para uma perda de força e avanço de 1% da atividade agropecuária.
Setor diz que desempenho contribuiu com o arrefecimento da inflação. Lucchi destaca que o arrefecimento de preço dos alimentos consumidos em casa, de 8,23% para 2,05% na passagem de 2024 para 2025, é fruto da safra recorde colhida neste ano. “Podemos dizer que, graças ao agro, a inflação de alimentos ficou dentro da meta, com uma redução de 6,18 pontos percentuais”, afirma ele.
“Conseguimos fazer uma coisa que achavam impossível. Batemos um novo recorde de produção, terminando o ano com uma safra superior a 350 milhões de toneladas, mesmo com restrição de crédito e problemas climáticos”, festejou João Martins, presidente da CNA.
China
Negócios com a China têm pontos de alerta para o futuro
A CNA destaca que o plano quinquenal do país asiático prevê o incremento da produção de grãos para reduzir as importações para a ração animal, especialmente de soja. “Isso não se concretizou, mas é um ponto de atenção para nós, que somos os principais fornecedores de ração animal para o mercado chinês”, avalia Sueme.
Investigação da China contra a carne mundial preocupa. A apuração aberta contra as importações de carne bovina sob a alegação de dano à indústria doméstica também mobiliza os produtores brasileiros, que são responsáveis por metade das proteínas destinadas àquele país. “Essa investigação devia ser concluída em novembro. Eles adiaram duas vezes e a previsão é de que se conclua em 26 de janeiro”, disse a diretora de relações internacionais.
Imagem: Diego Vara/Reuters



